Feito
febre, baixava às vezes nele aquela sensação de que nada jamais daria
certo, que todos os esforços seriam sempre inúteis, e coisa nenhuma de
alguma forma se modificaria. Mais que sensação, densa certeza viscosa
impedindo qualquer movimento em direção à luz. E além da certeza, a
premonição de um futuro onde não haveria o menor esboço de uma espécie
qualquer não sabia se de esperança, alegria, mas certamente qualquer
coisa assim.
Eram
dias parados, aqueles. Por mais que se movimentasse em gestos
cotidianos - acordar, comer,
caminhar, dormir -, dentro dele
algo permanecia imóvel. Como se seu corpo fosse apenas a moldura do
desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos, olhos fixos na
distância. Ausentou-se, diriam ao vê-lo, se o vissem. E não seria
verdade. Nesses dias, estava presente como nunca, tão pleno e perto que
estava dentro do que chamaria - tivesse palavras, mas não as tinha ou
não queria tê-las - vaga e precisamente de: A Grande Falta.
(Caio Fernando Abreu)
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